Alice Através do
Espelho (Alice Through the Looking
Glass, EUA, 2016)
Direção: James Bobin
Roteiro: Linda Woolverton inspirada nos personagens de Lewis Carroll
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Boham Carter, Anne Hathaway, Sacha Baron Cohen, Rhys Ifans, Matt Lucas, Lindsay Duncan, Leo Bill, Alan Rickman, Thimothy Spall, Paul Whitehouse, Stephen Fry
Duração: 113 minutos.
Classificação:
Direção: James Bobin
Roteiro: Linda Woolverton inspirada nos personagens de Lewis Carroll
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Boham Carter, Anne Hathaway, Sacha Baron Cohen, Rhys Ifans, Matt Lucas, Lindsay Duncan, Leo Bill, Alan Rickman, Thimothy Spall, Paul Whitehouse, Stephen Fry
Duração: 113 minutos.
Classificação:
Sinopse: Após algum tempo trabalhando como capitão do navio de seu pai, explorando as rotas mercantis entre Inglaterra e China, Alice retorna ao Reino Unido para descarregar as mercadorias e rever sua mãe. Chegando lá, descobre que terá de ir a um baile de gala oferecido pelo seu ex-pretendente e também dono da frota. Porém, novamente seu destino é alterado. Ao reconhecer Absolem, Alice o persegue até acabar entrando dentro de um espelho que a leva, mais uma vez, ao País das Maravilhas.da dolorosa morte causada pelo Jaguadarte, além da vida do próprio amigo que se encontra sem forças para viver.
Dessa vez livres do reinado sombrio da Rainha de Copas, os amigos de Alice estão preocupados com o estado de saúde do Chapeleiro Maluco que insiste em acreditar que sua família esteja viva, apesar dos eventos dos filmes anteriores terem comprovado o contrário. Sem sucesso em convencê-lo do trágico destino de seus familiares, Alice parte em busca do auxílio de Tempo para tentar viajar de volta ao passado a fim de salvar a família Chapeleiro
No último texto que dediquei aos
filmes Mogli, apontei como a Disney
iniciou a febre dos remakes de contos
infantis já vistos em suas clássicas animações. O pontapé inicial se deu com Alice no País das Maravilhas, filme de
2010 e último grande sucesso financeiro do excêntrico diretor Tim Burton. Mesmo
faturando 1 bilhão de dólares com o último filme, estranhamente a Disney não
encaminhou a sequência logo de imediato como qualquer outro estúdio teria feito
na sede de lucrar mais uns bilhões de bilheteria. Foram necessários seis anos
inteiros para que enfim Alice Através do
Espelho chegasse aos cinemas.
Linda Woolverton, uma das mais
tradicionais roteiristas da Disney, retorna à função para trabalhar novamente
com os personagens criados por Lewis Carroll, porém muito se engana quem pensa
que a adaptação de Alice no País dos
Espelhos seja fiel. O trabalho de Woolverton segue a linha do texto
anterior: totalmente livre para a criação. Porém, apesar do estúdio apostar na
imaginação da roteirista, ela entrega um roteiro hot pocket – o básico do mais básico, porém divertido e passageiro.
Não há grandes esforços para
construir essa história. O destaque principal fica por conta do uso da viagem
do tempo que Alice realiza com o auxílio de um aparato do pseudo-antagonista
Tempo. Além disso, o tom mais light e
menos sombrio do que visto no filme de Burton tornam a fita muito mais
agradável para o público geral. Linda sabe injetar energia na história toda vez
que é necessário. Ou seja, ao menos três reviravoltas grandes conseguem mudar o
rumo da narrativa a levando para lugares até mesmo inesperados em uma seleta
cena, rapidíssima, mas corajosa por inferir um contraste tão vibrante entre o
mundo real cru com o da imaginação impossível do País das Maravilhas.
Entretanto, mesmo com essa
guinada curiosa em um dos twists,
Woolverton pesa demais no uso de clichés que acabam tornando o filme deveras
previsível, além da verborragia expositiva que insiste em explicar muitas coisas
óbvias – Alice é quem mais explica o filme para a platéia. Muitas relações
entre personagens novos não conseguem fugir disso e muitos dos outros se
comportam mesmo como meros coadjuvantes. O desenvolvimento na jornada, feito de
modo adequado, se restringe única e exclusivamente ao drama familiar da Rainha
de Copas com a Rainha Branca. Mesmo o arco do Chapeleiro e sua família ser a
força motriz do filme todo, é um tanto desconfortável isso se resolver com
certa facilidade, tudo em um passe de mágica. Com ele, há ao menos um exercício
dramático interessante sobre o uso narrativo de um item ligado à infância do
personagem – ainda que dê origem a mais um conflito cliché.
O drama das duas rainhas-irmãs
também não foge de uma estrutura já conhecida ou até mesmo um questionamento
comum: “Se você tivesse a oportunidade de voltar no tempo, impediria a
existência de algum tirano genocida? ”. Obviamente, por se tratar de um filme
infantil, isso é bem apaziguado e misturado com humor. Ainda com a temática
interessante nesse núcleo, às vezes, é melhor deixar histórias de origem
debaixo dos tapetes. O que Woolverton traz para explicar a motivação da maldade
da Rainha de Copas é, digamos, esfarelado.
Aliás, os problemas de motivação
existentes no primeiro filme são praticamente resolvidos aqui. Alice, Rainha de
Copas, Chapeleiro Maluco, Rainha Branca e Tempo possuem motivos, mesmo que
fracos, para agirem em favor do avanço da narrativa. Tempo, infelizmente, é um
personagem fraco, de uma nota só, ainda que a interpretação do sempre caricato
Sacha Baron Cohen dê energia para sua perseguição tresloucada contra Alice. O
roteiro é bastante contraditório nas repetitivas frases que ele profere sobre
ser imortal quando nitidamente, ao longo do filme, ele vai perdendo forças. Pode
até ser encarado como uma ironia ou um discurso debochado sobre arrogância,
porém como o personagem não aprende durante a jornada, é difícil defender o
tratamento raquítico. Aliás, é bizarríssima a realocação da Rainha de Copas
nessa aventura depois de ser banida no filme anterior. Woolverton não tem muito
interesse em explicar isso para o público.
Com Alice, o tratamento se
restringe mesmo aos problemas restringidos ao mundo real. Há uma boa temática
de libertação feminina, além de Wasikowska finalmente abandonar suas expressões
de “mosca morta” tornando sua Alice uma boa anfitriã principal para acompanharmos
a razoável e divertida história.
Tomando o lugar de Tim Burton na
direção, a diferença de tom trazida por James Bobin é sentida imediatamente.
Sua ação é mais imaginativa, a câmera tem papel mais participativo e criativo,
a atmosfera é mais leve, os personagens são menos afetados principalmente a
Rainha Branca e o Chapeleiro Maluco os tornando mais agradáveis e relevantes
dentro do filme. Os enquadramentos são ricos sabendo muito bem preencher a
presença massiva do chroma key que traz
vida ao País das Maravilhas.
Se aproveitando dessa jornada
pré, durante e pós reinado da Rainha de Copas, Bobin, o fotógrafo Stuart
Dryburgh e o desenhista de produção Dan Hennah acertam em cheio no visual
impecável desse filme. Desde a concepção sombria repleta de arquitetura gótica
abarrotada de relógios no palácio de Tempo até aos tempos áureos de um País das
Maravilhas mais alegre, vivo e colorido. Destaque, claro, para a mesa do chá,
agora impecável como se deveria ser com doces e bolos fartos, pratarias
lustrosas e porcelana refinada fugindo da concepção derrotista e deprimida de
Burton. Essa atenção aos detalhes com o visual e direção de arte é o que
realmente elevam o filme. Mesmo que Dryburgh não arrisque criar metáforas
visuais que fujam do básico, é louvável a paleta de cores tão diversificada,
além da iluminação mais inspirada utilizando de contraluzes demarcadas para
criar verdadeiras planos “pintados” na tela – exemplo disso é onde Tempo
controla os relógios de “vida” de cada cidadão do mundo mágico.
Bobin também trabalha com mais
elegância as questões de ponto de vista quando Alice altera de tamanho na
jornada. Aliás, há até mesmo um caríssimo plano-sequência durante o explosivo
clímax do filme que consegue ilustrar bem o senso de urgência, aventura e
mágica perpetrado no fim da jornada. Já a lendária figurinista hollywoodiana
Colleen Atwood marca presença mais uma vez com figurinos e chapéus diversos
para incrementar ainda mais a intensa experiência visual que este filme é.
Porém, até mesmo o departamento
técnico artístico consegue falhar. Isso se dá por conta do desperdício do bom design dos ajudantes de Tempo. Ao
decorrer do filme, eles se aglomeram no intuito de auxiliar seu mestre, porém
há certa assombração vinda de outros objetos motorizados que se transformam em
robôs golem. É algo que, infelizmente, não foge do mau cliché que parece
condenar essa fita.
Massacrado lá fora, a recepção de
Alice Através no Espelho foi
mal-humorada demais. O filme peca pelo uso de clichês em demasia, na falta de
interesse confeccionado para uma história que já fora vista muitas vezes antes
considerada, então, manjada por muitos espectadores. É sim um produto
reembalado, porém repleto de carisma. A direção de Bobin e a adequação menos
excêntrica desse mundo funcionou para mim tornando a experiência de assistir ao
filme algo bastante divertido e agradável. Porém, mesmo assim, o roteiro fraco
tira o brilhantismo técnico. Para as crianças, não deixa de ser uma ótima
pedida, afinal se trata de um entretenimento rápido, fácil e inofensivo. E
muito expositivo.
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