Autor: José Saramago
Editora: Companhia das letras
Número de Páginas: 310
Sinopse: Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro
caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente.
Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência
humana, numa verdadeira viagem às trevas.
O Ensaio sobre a cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti.Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".
O Ensaio sobre a cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti.Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".
- Resenha -
“Penso
que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não
veem.”
Eu, uma grande fã de José de Sousa Saramago, não
poderia me surpreender mais com Ensaio sobre a cegueira, um livro sobre a
aflição humana, sobre como a necessidade faz o ladrão, como a necessidade
desperta o pior e melhor de nós, como o lobo é o lobo do homem, sobre como em
nossas certezas do séc. XXI estamos completamente vulneráveis a qualquer coisa
que a vida lance sobre nós.
“Os
cépticos acerca da natureza humana, que são muitos e teimosos, vêm sustentando que
se é certo que a ocasião nem sempre faz o ladrão, também é certo que o ajuda
muito.”
Em uma cidade simples, em um dia comum, um homem
repentinamente cega. Mas não simplesmente cega, enxergando negro. Tudo fica
branco como um mar de leites. O desespero bate. As pessoas não entendem e
muitas não se importam. É apenas um contratempo.
Não é apenas um contratempo, é o início de uma
epidemia que virá a consumir todos, causar desespero, desordem e caos. Quem
somos nós sem nossas visões? Quem é você sem poder ler seus livros? O que faria
ao estar lendo esta resenha, repentinamente cegasse, assim como milhões de
pessoas ao seu redor. Pessoas acostumadas à luz, a ler, a se locomover. Pessoas
como nós que vivem a partir de sua visão, se orientam a partir de sua visão.
Seu bem mais precioso lhe é tomado e não há nada para você fazer a não ser
tentar se orientar nesse mar de pessoas desesperadas como você.
“era
um homem de espuma, branco no meio de uma imensa cegueira branca onde ninguém o
poderia encontrar”
Mas se você não cegar? Mantiver sua visão em meio a
99,99% de cegos. Tentará ajudar? Se manterá calada? Tentará tirar proveito de
sua situação? Ou apenas ficará ao lado de quem você ama? Essa é a situação da
mulher do médico, que acompanhou o marido à quarentena mesmo sem ter sido
atingida pela epidemia e tentar ajudar de forma discreta aqueles que estão ao
seu redor. Mas a situação não é simples, logo ela se vê em um suplício
contrário aos dos demais:
“De
que me serve ver. Servira-lhe para saber do horror mais do que pudera imaginar
alguma vez, servira-lhe para ter desejado estar cega, nada senão isso.”
A ordem desaparece e todos estão vivendo como podem.
Não demora a acontecer o inevitável ao homem, o preconceito. O medo daqueles
responsáveis por eles leva-os a cometer injustiças, atrocidades e absurdos em
nome do seu próprio bem. O desprezo, o preconceito, o ódio são comuns e todos
lutam entre si para manterem-se vivos? Horrrível não é? No entanto o mal de
fora é de fora, pode-se lidar com ele, pode-se sobreviver a ele. Mas se o mal
maior passar a ser de dentro? Quando cegos passarem a odiar cegos? Quando cegos
passarem a se aproveitar de outros cegos? Cegos mais fortes, em maior número
que lhe tomam a comida. Raiva, indignação, mais desespero, melancolia e
resignação. O mal acontece. O lobo é o lobo do homem.
“Se não formos capazes de viver como pessoas,
ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais,”
Em uma condução de maestria, Saramago mais uma vez
desperta nossa curiosidade com temas simplesmente incríveis e absurdos. Temas
alheios à nossa realidade. Uma epidemia de cegueira branca? Como ele próprio
diz, cegueira não se pega, cegueira não é branca. Ainda assim, ele consegue nos
conduzir para dentro da situação aflita de cada um dos personagens em um
rodízio deles e de suas tramas. Embora muitos considerem a mulher do médico a
protagonista, é certo dizer que não há protagonistas em Ensaio sobre a
cegueira. Há pessoas, cada uma com suas aflições e almas particulares, a que
somos profundamente apresentados.
“Dentro
de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”
Apesar do tema alheio, ficamos submersos na história.
Saramago apresenta dramas reais, situações reais, consequências reais que irão
te fazer pensar em algum momento: “estou cego!”, seguido de “Por favor, que
isso nunca aconteça.” Mas você sente que qualquer situação parecida poderá
levar a este pandemônio magicamente apresentado por Saramago e se desespera.
“As
filhas das putas não são homens nem são mulheres, são filhas das putas, já
ficaste a saber o que valem as filhas das putas.”
Após tantas emoções e momentos marcantes nesta
leitura, você enfim terminará completamente confuso, com vontade de dar uma
surra amigável em Saramago, seguida de beijos, carinhos e agradecimentos por
ter criado esta obra maravilhosamente profunda que te deixarão com uma ressaca
literária de semanas, meses, anos...
Leu? Diz o que achou do livro aí embaixo. Não leu?
Dá uma olhada e volta para me dizer o que achou. Até a próxima.
“Assim
como não há bem que dure sempre, também não há mal que sempre cure, máximas
supremas de quem teve tempo para aprender com os baldões da vida e da fortuna,
e que, transportadas pare a terra dos cegos, deverão ser lidas como segue, Ontem
vimos, hoje não vemos, amanhã veremos,”
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