Empresa: Konami
Sinopse:
A história de Suikoden 2 acompanha os dois órfãos, Riou e Nanami, que cresceram juntos
na cidade de Kyaro sob os cuidados de mestre Genkaku, um artista marcial com um
passado misterioso. Ainda bem pequenos os dois “irmãos” ficam amigos de Jowy Atreides,
um garoto tímido de uma família rica da mesma cidade. Eventualmente os três se
vêem envolvidos na guerra entre o reino de Highland e a Cidade-Estado de
Jowston. A maneira como esta amizade de infância é afetada pela guerra é o foco
central do jogo e é conduzida de maneira brilhante e singela, com alguns
momentos realmente tocantes.
Resenha
A
trilha sonora é incrível e funciona perfeitamente para ilustrar a história
desde os seus momentos mais épicos e grandiosos até os mais dramáticos e
intimistas. As músicas de batalha são bombásticas com grandes orquestrações e
corais, já os temas mais pessoais recorrem muito ao piano e à melodias
nostálgicas, que combinam perfeitamente com o tema do jogo da inocência sendo
corrompida pela guerra (Eu não consigo ouvir “Reminiscence” e não me emocionar
um pouco). Outro aspecto que gosto bastante da trilha sonora é a mistura de
elementos musicais japoneses com europeus. Temos as já citadas músicas com
orquestras ou pianos, mas ao mesmo tempo algumas trazem flautas, percussões e
melodias que remetem claramente a musica tradicional japonesa. Essa junção
funciona para criar um universo rico e diverso, acaba sendo comum lembrar-se de
uma determinada cidade ou lugar apenas através da música tema.
Suikoden
2 é um RPG desenvolvido pela Konami e lançado em 1998 para o Playstation. Sendo
colocado no mercado na mesma época de jogos como Final Fantasy VIII, Suikoden 2
acabou sendo ofuscado e não muito jogado na época. Com o passar do tempo acabou
criando uma reputação e uma base de fãs fiéis que se viram cativados por essa
obra prima esquecida. A leva pequena de CDs no mercado fez com que o jogo se
tornasse difícil de encontrar e acabou o transformando em um clássico “Cult”.
Com o recém lançamento do jogo na PSN é um bom momento para descobrir se ele
ainda é relevante hoje em dia e se consegue se provar para além da sua imagem
quase mística.
Da esquerda pra direita: Riou, Nanami e Jowy |
O enredo acompanha principalmente a trajetória de três amigos de infância (Riou, Nanami e Jowy) e o envolvimento deles em um conflito militar que toma conta do mundo do jogo. Esta guerra entre Highland e
Jowston logo se torna o palco para uma serie de conflitos, traições, intrigas e
dramas pessoais envolvendo inúmeros personagens. Os três amigos se vêem
envoltos em diversas tramas que demonstram tanto a futilidade e o terror da
guerra quanto o quão moralmente cinzenta ela pode ser. Inimigos se tornam
aliados, familiares se viram uns contra os outros, preconceitos são quebrados e
decisões difíceis são tomadas o tempo todo. Não há espaço para dicotomias
simplistas entre Bem e Mal no universo de Suikoden 2, e é bastante animador ver
um RPG japonês colocar os seus elementos de fantasia em segundo plano para
focar em uma história tão humana e complexa como esta.
Uma
característica famosa de toda a série Suikoden são os seus 108 personagens
jogáveis (as 108 estrelas do destino, um conceito inspirado por uma lenda
chinesa) que são necessários para se obter o melhor final do jogo. Junte à estes as dezenas de NPCs que são
importantes pra história e você tem um número gigantesco de personagens no
jogo. Pode-se desconfiar – como eu fiz - que este número exagerado só é
possível as custas do desenvolvimento e caracterização dos personagens, mas
felizmente este não é o caso. Naturalmente alguns recebem mais atenção do que
outros, tendo mais diálogos e participação direta na história – meus favoritos
incluem Nanami, os mercenários Flik e Viktor, a garotinha Pilika e o
estrategista Shu - mas mesmo os menos desenvolvidos conseguem ser
surpreendentemente carismáticos e bem estabelecidos, cada jogador acabará
encontrando aqueles favoritos que sempre quer levar na equipe, seja pelo
visual, pela história ou pela eficiência no combate. E para os curiosos de
plantão (como eu) há um meio de utilizar um espião para descobrir informações
sobre o passado de todas as 108 estrelas do destino, uma maneira inteligente e
sutil de dar mais desenvolvimento aos personagens que não participam tanto da
trama principal.
Alguns dos 108 personagens recrutáveis |
Mas
é claro que não podia terminar de falar dos personagens sem citar aquele que é
um dos vilões mais odiados/amados da história dos games: Luca Blight. Luca é um
personagem tão forte que transcende o seu jogo de origem. É comum ouvir falar
dele por aí mesmo sem conhecer nada da serie Suikoden já que constantemente ele
aparece em discussões ou listas sobre os melhores vilões dos games. O que torna
Luca tão sensacional é que ele não é nenhum demônio, semideus ou ultimo
sobrevivente de uma raça extinta, ele nada mais é do que um ser humano terrível.
Em um jogo onde a maioria dos antagonistas tem motivações pessoais claras e não
são totalmente maus, Luca se destaca sendo completamente sádico e violento. Ao
mesmo tempo é surpreendente como ele consegue ser “carismático”, exercendo um
tipo de fascínio deturpado sobre os jogadores, especialmente depois que mais
sobre o passado dele é revelado. É inevitável não se empolgar toda vez que ele
aparece na tela, esperando para ver qual o próximo ato imprevisível e terrível
que ele vai praticar. É o contraponto perfeito para a amizade dos três
protagonistas e um vilão incrível, a batalha final contra ele é épica e intensa
ao mesmo tempo em que possui uma beleza trágica e melancólica. Pra mim é o
ponto alto de todo o jogo.
Luca Blight é pura crueldade (e puro carisma) |
Graficamente
o jogo é bonito, mas nada de muito espetacular. Os cenários são bem detalhados
e os personagens têm designs bem variados, coloridos e interessantes. O que
realmente chama atenção nesse aspecto é a animação dos sprites dos personagens.
Em RPGs em duas dimensões geralmente não é esperado que os personagens tenham
animações muito complexas, normalmente apenas uma ou outra pose especifica e os
movimentos de batalha. Aqui por outro lado foi colocado um cuidado extremo nos
mínimos movimentos dos personagens: Um cabelo esvoaçante, um gesto com a mão,
uma piscadela, um olhar cabisbaixo. Tudo é cheio de sutilezas e nuanças que
deixam o jogo incrivelmente mais vivo e torna os personagens mais cativantes. Remete
às animações clássicas da Disney ou da Pixar que também tinham essa atenção aos
detalhes das movimentações dos seus personagens. Isso fica especialmente claro
nas batalhas, que se tornam deliciosamente vibrantes graças à possibilidade de
ver todos os 108 personagens realizando movimentos diversos ou usando magias e
habilidades que também tem efeitos bastante impressionantes.
As animações brilham durante as batalhas |
A
jogabilidade é clássica de RPGs japoneses, mas com algumas peculiaridades que
tornam o jogo único. O sistema de
batalha é por turnos, mas bastante rápido, fluido e divertido, suportando até 6
personagens de vez no grupo. A estratégia surge através de duas mecânicas
principais: O sistema de runas e as habilidades conjuntas. As runas são
compradas ou achadas durante o jogo e podem ser equipadas para garantir magias
ou habilidades. O legal é que além das magias clássicas que se espera de um RPG
japonês, certas runas garantem benefícios e habilidades específicos pra
determinado tipo de personagem, como por exemplo, permitir que um arqueiro
atinja todos os inimigos com um único ataque (causando menos dano em cada um),
impossibilitar que um personagem frágil seja alvo de ataques físicos, dobrar
tanto o dano causado quanto recebido por um personagem etc. Além disto, existem
algumas runas que são exclusivas de determinado personagem, contribuindo para
diversificar o combate e deixar cada personagem único. Junto a isso temos as
habilidades conjuntas que são basicamente técnicas especiais que podem ser
aplicadas por 2 ou mais personagens ao mesmo tempo. Esse é um aspecto extremamente divertido do
jogo porque essas habilidades são incrivelmente interessantes e bem animadas, indo
desde um ataque sincronizado entre espadachins até arqueiros lançando uma
barragem de flecha sobre os inimigos ou um casal atacando ao mesmo tempo. Além
de contribuir para dar mais carisma aos personagens e estabelecer uma relação
entre eles, esse sistema é o principal fator para tentar experimentar todos os
108 personagens ao invés de focar só nos seus favoritos. Essas duas mecânicas
elevam o jogo acima do básico do RPG oriental por turnos e garante uma boa dose
de customização, estratégia e diversão. Infelizmente o jogo tende a ser um
pouco fácil demais, e qualquer um que dedique um tempo razoável pra desenvolver
os personagens e as estratégias de batalha não vai encontrar muitos desafios
para além das batalhas contra os chefes.
Porém,
os mesmos elogios não podem ser dados aos outros sistemas batalhas do jogo
(também características da serie suikoden): os duelos e as batalhas entre
exércitos. Os duelos são simples jogos estilo “pedra, papel, tesoura” onde o
desafio é tentar adivinhar qual opção o adversário vai escolher através dos
diálogos antes dos ataques. São legais do ponto de vista da história e também
são visualmente muito bem animados (pra variar), mas são tão poucos e tão
espaçados que é um elemento quase irrelevante do gameplay. Já as batalhas entre
exércitos são um caso mais sério. É um sistema de “tabuleiro” por turnos no
estilo Fire Emblem e possuem um bom grau de profundidade e diversas opções de
customização e estratégia, eu como fã de RPGs táticos estava empolgado para
mergulhar de vez nesse sistema. Mas, infelizmente, elas são terrivelmente mal
aproveitadas. Na grande maioria das batalhas ou você não controla todas as
unidades ou a própria batalha termina sozinha depois de um número de turnos
pré-determinado. Pouquíssimas batalhas envolvem o jogador controlando todas as
tropas e tendo que lutar até derrotar os inimigos realmente. Nesses momentos
vemos o verdadeiro potencial desse sistema e o quão decepcionante é ele ter
sido tão mal aproveitado. Mas se pelo lado da jogabilidade essas batalhas são
pouco desenvolvidas, é preciso dar o braço a torcer e reconhecer o quão
eficiente elas são para a narrativa do jogo. Realmente cria-se um clima de
guerra épica e de grandes batalhas onde os lideres de cada exercito tentam prever
os movimentos do inimigo e elaborar estratégias em um duelo intelectual muito
empolgante.
Além
dos 3 sistemas de batalha, uma outra marca registrada da serie é o
desenvolvimento do seu próprio castelo,
que serve como base de operações para as estrelas do destino e para o exercito
como um todo. Este é outro aspecto divertidíssimo do game, o castelo começa
pequeno e precário e vai se desenvolvendo de acordo com o número de personagens
que você recruta e com o desenrolar da história. Com o tempo ele vai crescendo e passa a
abrigar lojas, bibliotecas, fazendas, etc. É incrível como é fácil se apegar ao
castelo e se sentir realmente confortável lá, principalmente porque você pode
inclusive dar o nome que quiser a ele. Além de servir como uma espécie de
quartel general entre as missões que você completa, o castelo ainda é recheado
de vários mini-games e atividades que incluem pescaria, escalada, dança,
coleção de livros e o melhor de todos: os duelos de culinária. Esse é um jogo
ridiculamente divertido onde você ajuda seu chef a “lutar” contra outros chefs
que chegam ao castelo para desafiá-lo, preparando receitas e recebendo notas de
0 a 10 dos seus próprios personagens que atuam como juízes.
O jogo consegue criar um vínculo emocional forte entre o jogador e o seu castelo |
No
final, Suikoden é um clássico que merece ser redescoberto pelas novas gerações.
A jogabilidade é sólida o suficiente para ser divertida apesar da facilidade
geral do jogo e de alguns elementos mal aproveitados. A trilha sonora soberba, os personagens
cativantes e o enredo incrível elevam o jogo a uma experiência narrativa
realmente tocante, intensa e envolvente. Pode ser um pouco complicado descobrir
como recrutar as 108 estrelas do destino e como conseguir o melhor dos
múltiplos finais do jogo, mas nada que uma pesquisa de leve na internet não
resolva. Qualquer amante de um bom RPG ou qualquer um que goste de uma boa
história épica, mas muito humana, não pode perder essa jóia.
"Peace is a beautiful thing... even if
it comes... at the end of a long, brutal war....."
Jowy Atreides.
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