Direção: Felix van Groningen
Roteiro: Felix van Groningen e Luke Davies
Elenco: Steve Carell, Timothée Chalamet, Maura Tierney e Amy Ryan
Classificação:
Sinopse: O conhecido escritor e jornalista, David Scheff (Steve Carell), se vê perdido ao descobrir que seu filho mais velho, Nic (Timothée Chalamet),
é viciado em metanfetamina. Com o conhecimento da situação, a família
entra em crise. David passa a refletir sobre a infância do filho
enquanto estuda a fundo sobre drogas e as questões da dependência. Já Nic enfrenta
os diversos ciclos vividos por dependentes químicos – a abstinência, as
reações biológicas pela falta da droga, a recaída, a tentativa de
melhora etc. Em meio a esse turbilhão de idas e vindas entre pai e
filho, eles dois e todo o restante da família precisarão achar uma forma de lutar com os seus demônios para conseguirem viver as suas vidas.
A sensível jornada dos Scheff é tema central de Querido Menino
Uma
das propriedades do cinema é a sua capacidade de moldar um determinado
assunto de acordo com a produção. A sétima arte vive uma constante
fabricação de realidades infindáveis e distintas. A possibilidade de
criar universos contrastantes faz do cinema uma poderosa arma. Filmes
podem incentivar e manter guerras – como foi amplamente feito nas
décadas de 1930 e 1970, por exemplo –, denunciar problemas sociais,
explicar acontecimentos e até mesmo fazer o espectador repensar alguma
temática. Esse último exemplo é um cinema cujo objetivo pode ser
louvável. Preconceitos, conceitos e paradigmas são refutados através de
intensas produções, onde tudo vai depender do olhar que o diretor,
roteirista, produtor e/ou estúdio querem dar.
Tabus
sociais são discutidos nas telonas a partir de obras sensíveis. Uma
nova perspectiva é posta em pauta quando um produto cinematográfico
consegue atingir o público em larga escala. O cinema pode dar voz aos
calados, força aos esquecidos e compaixão aos marginalizados. A partir
desse pensamento, a Amazon Studios decidiu comprar a ideia do projeto cujo tinha como base o livro de memórias de David Sheff e o artigo de Nic Sheff. Assim nasceu um dos projetos mais sinceros e sensíveis sobre dependentes químicos. Assim nasceu Beautiful Boy (título original).
Querido Menino
é uma das estreias da semana nos cinemas brasileiros. O longa-metragem
traz um olhar cuidadoso sobre uma das temáticas mais tabus da
atualidade: drogas. A discussão levantada pelo filme e o olhar da
produção sobre o assunto fazem a diferença nessa película. A perfeição
do elenco em cena é emocionante e envolvente. A direção de Felix van Groeningen
é cuidadosa e só amplia a mensagem de sua nova película. O roteiro
mescla momentos de dor e alegria com o objetivo de mostrar uma
perspectiva que abraça o dependente e verdadeiramente tenta ajuda-lo. A
partir desta quinta-feira (14), o público do Brasil tem a chance de
abrir a mente e o coração para entender e ser tocado por essa história
real extremamente forte.
Felix van Groeningen (Alabama Monroe,
de 2012) retorna as telonas com uma jornada biográfica sensível. A sua
primeira produção americana se destaca pela sutileza e atenção ao
discurso sobre a dependência de drogas. Querido Menino
é uma narrativa acolhedora na qual o espectador vislumbra as dores de
cada um dos envolvidos sem discriminar e excluir qualquer pessoa,
principalmente o dependente. O trabalho do diretor amplifica esse olhar
cuidadoso a partir de cenas cheias de emoção e beleza. As cenas são
filmadas de tal forma que o público cria uma identificação imediata a
partir dessa aproximação entre imagem, narrativa e realidade. Felix
elaborou um diálogo perfeito entre os acontecimentos da trama e a ideia
central dela, dando a película a força necessária para fazer com que o espectador reflita sobre a maneira como a sociedade maltrata o dependente e o quanto isso interfere negativamente ao processo de melhora dessa pessoa.
Ao
lado de Luke Davies, Felix também assina o roteiro dessa peça delicada
sobre afeto. Uma narrativa criada a partir de um olhar sem preconceitos
e/ou julgamentos. A adaptação foi feita com base nos relatos das
personagens principais da trama, o que ajudou na veracidade do texto. A
escolha dos momentos emotivos é perfeita e conduz o espectador para fora
da caixa predisposta socialmente sobre a temática. O público sai do
lugar comum e e
aproxima do sofrimento do outro. É admirável a inteligência do roteiro
ao abraçar uma causa e fazer dela verdade para todos os que estão
assistindo a essa narrativa. A vida dos Sheff foi cuidadosamente reconstruída para vencer o preconceito.
Toda a força do roteiro é transmitida pelo elenco em cena. Steve Carell está excepcional.
O medo, a dor e a incerteza de sua personagem são constantes em suas
cenas. A sua presença cênica engrandece a verdade da película e dá força
na transmissão de sua mensagem. Timothée Chalamet mostra seu talento em sua melhor performance da carreira. Depois de Call Me By Your Name (2017), o jovem ator ainda consegue surpreender a crítica e o público com a sua desenvoltura como Nic Sheff. Além da mudança física para a personagem, Chalamet impressiona pela maturidade em cena que acompanha Carell.
Além dos dois, a produção ainda conta com Maura Tierney e Amy Ryan as
quais ajudam a compor essa família desestruturada que luta pela vida de
um filho. Um conjunto de artistas perfeitamente escolhido para viver cada um desses papeis.
Beautiful Boy
encanta a todos desde a sua estreia no Festival de Toronto. A direção, o
roteiro e o elenco trabalham lado a lado para compor uma atmosfera dura
e sofrida que, ao mesmo tempo, consegue ser extremamente delicada e
atenciosa ao assunto. A descoberta da dependência, os embates entre a
família, as recaídas de Nic e todos os outros problemas da trama reforçam a sua verdade. A produção tem o máximo de cuidado em honrar a sua luta
contra o preconceito e as memórias das figuras reais que estão sendo
retratadas. Todos esses esforços são positivos e alcançam o seu objetivo
porque, ao final da sessão, o espectador estará refletindo sobre
conceitos como família, afeto e dependência química. Apesar da qualidade
do filme e de suas nomeações em algumas premiações, Querido Menino ficou de fora na corrida pelo Oscar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário