Crítica I Os Três Mosqueteiros: D´Artagnan

Título: Os Três Mosqueteiros: D´Artagnan

Direção: Martin Bourboulon

Roteiro: Alexandre De La Patellière e Matthieu Delaporte

Elenco: François Civil, Vincent Cassel e Romain Duris

Sinopse: Em um Reino dividido pelas guerras religiosas e ameaçado pela invasão da Inglaterra, um grupo de homens e mulheres cruzará suas espadas e unirá seu destino ao da França em Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan. Segue-se d'Artagnan, um jovem gascão espirituoso que é dado como morto depois de tentar salvar uma jovem de um sequestro. Ao chegar a Paris, ele tenta por todos os meios encontrar seus agressores. Mal sabe ele que sua busca o levará ao centro de uma guerra real onde o futuro da França está em jogo. Aliado a Athos, Porthos e Aramis, três mosqueteiros do Rei com perigosa imprudência, d'Artagnan confronta as maquinações sombrias do Cardeal de Richelieu. Mas é quando ele se apaixona perdidamente por Constance Bonacieux, a confidente da rainha, que d'Artagnan está realmente em perigo. Porque é essa paixão que o leva atrás daquela que se torna sua inimiga mortal: Milady de Winter. 

                                                      Crítica:


Os Três Mosqueteiros é uma das raras histórias quase universais e parte do inconsciente coletivo. Mesmo sem conhecer detalhes, muita gente lembra de Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan, o lema “um por todos, todos por um”, as lutas de espadas, etc. Fãs um pouco mais atentos conhecem mais elementos da história, como a mortal Milady (que inspirou dezenas de femmes fatales no cinema e na literatura), o Duque de Buckingham, a figura vilanesca do Cardeal de Richelieu, dentre tantas outras. Logo, é natural cogitar se o novo filme seria apenas um caça níquel ou traria algo de novo, ou ao menos um olhar diferente, para uma história tantas vezes contada, especialmente após o desastre que foi o filme de 2011 dirigido por Paul W.S. Anderson.

Felizmente, a resposta é sim. “Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan” merece, e muito, ser visto.

A direção de Martin Bourboulon é, sem dúvidas, o maior diferencial. O filme já se diferencia de seus antecessores ao retratar uma Paris muito mais suja, escura e violenta que os cenários limpinhos e coloridos de filmes anteriores, com personagens que parecem realmente viver nas problemáticas condições de higiene do século XVII. As cenas de ação, sejam perseguições ou combates, são um capítulo à parte, repletas de energia, sem jamais se tornarem incompreensíveis ou repetitivas. Principalmente, tais cenas abandonam o aspecto galante e quase teatral de filmes anteriores e mostram como duelos, lutas e confrontos podem ser brutais, sangrentos e nada bonitos, mas jamais perdendo de vista que o filme é, antes de tudo, aventuresco. A direção de arte também cumpre muito bem seu papel, com destaque para um baile de máscaras tão marcante que até pedia uma cena um pouco maior.

Também é impossível não observar a diferença positiva de assistir a uma história ambientada na França finalmente encenada por atores franceses (ao menos a maioria), dirigida por um francês e falada em francês, tudo isso com grande orçamento. Isso contrasta com a regra universal de Hollywood de todos os mundos, povos e tempos no universo falarem inglês. Não é difícil entender que qualquer história contada no contexto de sua própria cultura, por realizadores que cresceram em contato com suas inspirações, possui incontáveis vantagens na compreensão de todos os seus elementos, subtextos e detalhes, e tudo isto está traduzido na tela.

A maior prova disso é talvez o aspecto mais interessante desta nova versão de Os Três Mosqueteiros: a inclusão, não como mero subtexto mas um dos pontos mais relevantes do filme, presente desde os letreiros iniciais, do sangrento conflito entre católicos e protestantes em diversos níveis da sociedade, inclusive com referências a eventos históricos da França. Dentre tantas diferenças marcantes entre esta versão e filmes anteriores como a versão bobinha de 1993 ou o já citado desastre de Paul W.S. Anderson, ou mesmo releituras interessantes como O Homem da Máscara de Ferro, esta sem dúvidas é a principal. Não é apenas uma história divertidíssima repleta de ação, romance e humor e que prende a atenção em cada segundo das duas horas de projeção. É, de certa forma, uma história sobre a França pré revolução francesa, suas tensões, contradições e problemas.

Quanto às atuações, François Civil, embora não comprometa como o protagonista, tampouco se destaca, diferente de Lyna Khoudri que injeta carisma em Constance, e de Vincent Cassel, que sai da zona de conforto emprestando toda a dignidade que Athos exige. Romain Duris (Aramis) apresenta facetas novas a seu personagem além do clichê religioso, enquanto Pio Marmaï (Porthos) sai prejudicado por, como quase sempre, seu personagem ser o menos explorado entre os Mosqueteiros. Surpresas muito positivas são as atuações de Louis Garrel e principalmente Vicky Krieps como o Rei e a Rainha da França, tornando estes personagens muito mais que as caricaturas de filmes anteriores e por vezes roubando o filme. Impossível também não destacar Eva Green como Milady. Abraçando a malícia da personagem sem cair na canastrice e no exagero demonstrados, por exemplo, em 300: A Ascensão do Império, Eva torna muito mais difícil a vida de qualquer uma que interprete a personagem depois dela. Não à toa o nome da segunda parte é “Os Três Mosqueteiros: Milady”.

Se o filme não é perfeito, isso se deve a problemas pontuais como o fato de um excesso incômodo de coincidências (haja gente escutando revelações importantes atrás da porta sem ninguém perceber), algum exagero na paleta descolorida, nas sombras e no cinza e alguns problemas de caracterização (que podem ser corrigidos nas sequências), como Pothos extremamente apagado. Nada que comprometa o saldo positivo.

A obra-prima de Alexandre Dumas merecia uma adaptação que, entre erros de acertos, finalmente está à sua altura, o que não é um elogio pequeno. Que venha logo a segunda e última parte, a ser lançada ao final deste ano.


                                       Por: André Lessa

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