Crítica | Coringa : Delírio a Dois

 

  Título original: Folie À Deux.

  Gênero: Ação, drama, suspensen musical.

  Direção: Todd Phillips.

 Elenco: Joaquin Phoenix, Lady Gaga, Catherine Keener, Zazie Beetz, Harry Lawtey, Brendan Gleeson.

  Notinha: 4/5.


SINOPSE

Em “Joker Loucura a Dois” encontramos Arthur Fleck institucionalizado em Arkham, à espera de ser julgado pelos seus crimes como Joker. Enquando luta contra a sua dupla personalidade, Arhtur não só encontra o amor verdadeiro, mas também a música que sempre esteve dentro dele.

CRÍTICA

Contrariando o que todos esperavam após o enorme sucesso de crítica (com 11 indicações ao Oscar)  e público( maior bilheteria do ano), Coringa (2019) ganha uma continuação audaciosa com o retorno do ganhador do Oscar: Joaquin Phoenix (melhor ator pelo personagem) que faz literalmente duetos para receber a diva pop e atriz Lady Gaga como sua Harley Quinn ou como a chamam nesse filme apenas Lee. Aqui temos uma sequência grandiosa em todos os aspectos possíveis, porque a jornada do nosso anti-herói preferido agora confinado tendo que viver sob a realidade de uma instituição para criminosos e doentes mentais e todas os desafios que envolvem essa realidade.

Mas vamos tirar o elefante no meio da sala logo?! Precisava mesmo de uma sequência? Porque após a estreia o filme anterior alcançar imediatamente aclamação por parte de todos, foi uma unanimidade entre críticos, especialistas e as massas feito que por si só já é imenso e levar dois Oscars (melhor ator e melhor trilha sonora) confirmou o que todos que o assistimos já sabíamos é uma grande filme que genialmente elevou os tradicionais filmes de universo de super herói a um outro patamar, sendo um marco no cinema.

Voltando para a sequência, aqui temos um novo personagem que já tinha aparecido e brilhado: a música. Ela conduz as cenas e se destaca, de uma maneira talvez diferente do que as pessoas estejam esperando, eu particularmente fiquei encantada com a forma com que foram escolhidas as canções e encaixadas nas cenas, as vozes e cantorias que me pareceram equilibradas o suficiente para termos tempo para os diálogos tradicionais e os números musicais são um show a parte (mais do que posso revelar), o que ficou forte para mim foi que o roteiro é todo voltado para novamente uma imersão na perspectiva do Arthur/Coringa, em como funciona seus pensamentos, memórias e a qualidade desse conteúdo é expressa ricamente e funciona a maior parte das quase 3h de exibição do filme.

Joaquin Phoenix é conhecido em Hollywood por ser um ator criterioso com suas escolhas, de método daquele tipo excêntrico que se ama odiar, não temos como confirmar nada disso mas uma coisa é um fato, ele é um excelente ator que utiliza seu corpo em todos os sentidos para compor seus personagens, por isso também sua atuação foi tão bem recebida e premiada. Como esquecer aquele gargalhada descontrolado e a magreza na qual se submeteu para interpretar uma pessoa profundamente adoecida e sem cuidados necessários? Todos esses aspectos retornam para a sequência e a grande novidade é mesmo a musicalidade ganhar passos de dança e cantorias que aos meus olhos deixam tudo ainda mais conectado com o estado mental dele, como se com a música uma parte dele nos fosse apresentada, uma parte imensa na verdade, triste, feliz, apaixonada e cheia de expressão diferente do estado catatônico no qual ele estivera. 

A entrada da Lady Gaga para o elenco foi outro grande acerto, eu tinha quinze anos quando ela despontou na indústria chocando e encantando com os looks, sua música e apresentação e a na época a pergunta que pairava era "será uma diva pop de um sucesso só?" e após 16 anos e tantos feitos ninguém pode mais duvidar da profundidade e extensão do seu talento. Enquanto assistia sua Arlequina, me peguei pensando no bom trabalho que executa porque a diva pop desapareceu ali, desde como projeta sua voz para cantar/falar até os movimentos corporais e olhar nos dão notícias de que houve grande investimento de tempo em construir uma personagem sólida e se distanciar das outras existentes de outros universos para tornar a sua versão sua. E sorte nossa ela ser artista de verdade, porque o resultado não decepcionou.

Não acredito que essa sequência será outra unanimidade, eles sabiam dos riscos em fazer um outro e apesar dos que não gostam de musicais e sentiram que as sequências tomaram tempo demais eu penso que é tudo uma questão de perspectiva, onde uns veem desperdício da história ao apresentar canções solos ou não, outros irão ver uma extensão do personagem em si, uma maneira nova e mais artística de se apresentar e isso vai ser assunto para muitos grupos de estudos de psicopatologia, estudantes de psicologia e etc. Eu estava na universidade em 2019 e lembro de ir para a aula de psicanálise lacaniana e sem nenhum aviso prévio levei uns spoilers da professora de tão empolgada e maravilhada com a película, lembro que de um modo geral esse filme foi uma sensação entre a comunidade e hoje como profissional da Psicologia e cinéfila acredito que o feito tem fortes chances de se repetir. Pois a psi que vos fala gostou demais e antes que eu me esqueça a resposta a pergunta feita inicialmente, é não. Não havia necessidade de uma sequência eu sei disso, você também provavelmente e com certeza todos os envolvidos...Hollywood não sabe resistir a tantos gracejos e elogios, se até bombas atômicas em forma de filmes ganham sequências porque uma obra prima moderna não ganharia? No final é sobre isso também, não podemos ser ingênuos quanto a isso, mas ao menos fizeram um bom trabalho. Enquanto uma profissional e militante da lógica antimanicomial e da saúde mental como um assunto relevante é muito interessante ver inseridos questões sobre negligencia do estado, descaso, despreparo, preconceito e as diversas violências retratadas porque sabemos que infelizmente representa o que vem acontecendo a tempo demais em todos os lugares do mundo. Então mesmo que da sua própria maneira se levanta questionamentos importantes para a sociedade sobre os cuidados com os que sofrem de doenças e transtornos mentais, manicômios tem sido a solução secular quando se sabe hoje que não resolve nada, muito pelo contrário causa maiores sofrimentos e dores as pessoas.

E apenas como curiosidade o título original escolhido é curioso e inteligente porque Folie à deux é uma síndrome rara que significa "loucura a dois" ou "delírio a dois." Trate-se de um transtorno mental em que um indivíduo com um quadro psicótico transfere os seus delírios para outra pessoa ou pessoas.


Boa sessão ou deveria dizer bom delírio?! rs

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