Crítica | A Verdadeira Dor

Título original: A Real Pain
Direção: Jesse Eisenberg
Elenco: Jesse Eisenberg, Kieran Culkin, Banner Eisenberg, Daniel Oreskes, Ellora Torchia 
Gênero: Drama

Sinopse

Uma viagem de turismo histórico e cultural na Polônia para visitar memórias familiares da querida avó reúne dois primos que estavam distantes física e emocionalmente. A jornada expõe antigas (e novas) tensões, tendo como cenário o primeiro país a ser invadido durante o maior conflito bélico da história da humanidade. 

                          Crítica

Em seu segundo longa como diretor, agora também assinando o roteiro original (indicado ao Oscar 2025) e sendo um dos protagonistas, Jesse Eisenberg (A Rede Social) nos entrega uma trama que desde o início revela que a relação dos primos David e Benji (Kieran Culkin) será o fio condutor da história.

O filme começa mostrando o ir e vir de pessoas no aeroporto JFK de Nova York. Uma música melancólica ao fundo, e em seguida a câmera começa a focar em Benji, confortável em passar horas ali rodeado de estranhos, cena essa que se repetirá em outro momento, lembrando o início de "O Terminal", com Tom Hanks. Um contraste com a ansiedade e atraso de David para chegar a tempo de pegar o voo rumo à Europa. Os dois primos, que estão há muito tempo sem se ver, irão embarcar para a Polônia, onde vão fazer parte de uma excursão em Varsóvia que atrai judeus e interessados no tema, e seguirão sozinhos para conhecer a casa onde morava a avó Dorys, sobrevivente do Holocausto. 

A escolha da capital polonesa como destino da viagem e origem familiar não poderia ser à toa: era a maior comunidade judaica europeia antes da ascensão do nazismo. Cerca de 85% da cidade foi destruída durante a Segunda Guerra Mundial, e depois ressurgiu como símbolo de resiliência. No longa, é o pano de fundo (ou seria um personagem?) para o conflito de personalidades entre os primos afastados e suas diferentes maneiras de lidar com dor e luto. 

Nesses momentos de indagação e reflexão, além dos episódios de alívio cômico, Kieran Culkin rouba a cena com uma atuação que o premiou com o Globo de Ouro de Ator Coadjuvante e o coloca com um dos favoritos ao Oscar. Não fica claro qual o diagnóstico mental de Benji, mas as suas mudanças de humor e lampejos de alegria e sabedoria deixam até mesmo o seu primo David como um expectador, e não um participante da história. 

A condução do tema, tão recorrente no cinema, sob a ótica do luto individual e coletivo e sem mostrar derramamento de uma gota de sangue, é o grande trunfo da película. Ficamos diante de uma abordagem muito mais humanizada da catástrofe que foi o antissemitismo e como reverbera até hoje em seus descendentes. Voltando à cena de Benji no aeroporto JFK, como se fosse um ambiente familiar para ele, fica então o questionamento: qual a verdadeira dor?


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